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Área de Concentração

Publicado: Terça, 13 de Setembro de 2022, 21h35 | Última atualização em Quarta, 28 de Setembro de 2022, 14h29

HISTÓRIA, CULTURA E SOCIEDADE

O Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Campina Grande tem por meta principal a formação de excelência de recursos humanos em nível de Mestrado a partir da área de concentração em História, Cultura e Sociedade. O conhecimento histórico implica, primeiramente, em uma organização dos fatos a partir de práticas empíricas como a pesquisa, catalogação e a interpretação de fontes documentais e bibliográficas. Em seguida, espera-se que os profissionais da área de História articulem os resultados dessa primeira etapa das investigações arquivisticas em um modelo explicativo que deve ter como principal eixo norteador a contextualização crítica e compreensiva das temáticas sociais e culturais estudadas.

Desse modo, a condição humana, ao longo de recortes temporais delimitados, é problematizada através de análises que buscam evitar reducionismos, determinismos e anacronismos.  Diferentes sujeitos, manifestações culturais, fatos ou classes sociais são interpretados a partir de vestígios materiais e imateriais que fornecem indícios acerca de modos de ser e estar em múltiplas espacialidades e cronologias. Sendo uma forma de conhecimento pautada na constatação da alteridade humana, a História prima pela reflexão - alicerçada em diretrizes teóricas e metodológicas - sobre práticas cotidianas, tensões, contradições e conflitos sociais, formas de dominação e resistência coletiva, relações de poder, subjetividades e individualidades em universos rurais e urbanos, rupturas e continuidades culturais, manifestações eruditas e populares, formas de cidadania e processos educativos, ideias, imagens, crenças,  sensibilidades, testemunhos, interesses privados e públicos, narrativas ficcionais e verossímeis, percepções da natureza, mundos do trabalho, mediações culturais, identidades étnico-raciais e/ou representações e discursos situados em espaços e tempos específicos.

A pesquisa histórica, portanto, aborda sociedade e cultura de maneira indissociável. Essa perspectiva não só possibilita interrogar criticamente documentos que são transformados em fontes de informações sobre o passado, mas também suprir certas lacunas encontradas em todo e qualquer arquivo. A base e finalidade do conhecimento histórico e compreender os elementos que condicionam socialmente mesmo os fenômenos culturais mais singulares e individualizados. Trata-se de um campo de saber em continua expansão, no qual sempre ´e possível acrescentar novas contribuições empíricas mesmo no tocante a objetos e temas de investigação tidos como tradicionais. Sendo assim, a Área de Concentração História, Cultura e Sociedade está alicerçada em problemáticas que abarcam experiências sociais, representações e discursos de grupos ou indivíduos historicamente situados em contextos rurais e urbanos a nível internacional, nacional e local.

É sabido os domínios de clio têm sido marcados por uma enorme virada no último meio século, com novos objetos e novas abordagens, acrescidos de um novo modo de crítica das fontes e de uma nova forma de equacionar as relações de estranhamento entre presente/passado, entre outros pressupostos. Isto, para não falar de uma virada que trouxe preocupações quando marcado por posturas extremas, a saber, a substituição do que era considerado saber sistêmico pela noção de um pensamento descentrado, fragmentado, pulverizado. Buscando fugir tanto às generalizações abstratas quanto ao relativismo extremo e procurando estabelecer, na medida certa, um diálogo entre a teoria e a “empiria”, construímos esta proposta de mestrado em História, Cultura e Sociedade, buscando abranger, nessa empreitada, uma ampla liberdade de escolha de cortes cronológicos, objetos de estudo e concepções de história, vale dizer, uma perspectiva pluralista ou uma perspectiva marcada por horizontes teóricos que, na esteira da renovação historiográfica aludida, envolvem duas importantes variáveis: de um lado, explicações em torno da noção de cultura; de outro, reflexões sobre noções de pluralidade epistemológica.

Em primeiro lugar, há que chamar a atenção para a polissemia em torno da noção de cultura, pois conforme notificado pelo historiador cultural inglês Peter Burke, certas tentativas de definição do termo cultura, levadas a efeito há algumas décadas, levou ao registro cerca de 200 definições aproximadamente, Além de polissêmico, o termo cultura figurou durante muito tempo como sinônimo de “alta cultura”, destinada tão só ao deleite de grupos de elite, como se as gentes pobres não fossem portadoras de qualquer elemento cultural. E ainda que um dia tenha surgida uma coisa denominada “cultura popular”, o tratamento remetia à dicotomização entre cultura de elite e cultura popular, demorando, por assim dizer, para que fossem vistas com base na ideia de hibridismo cultural. Ademais, cultura foi vista durante muito tempo como uma instância da vida em sociedade ao lado de outras instâncias, levando àquilo que Marc Bloch, um dos fundadores da Escolha dos Annales, definiu com muita propriedade como uma “ficção de trabalho”. Para Bloch, há que estudar todo o meio humano e não apenas uma instância dada da realidade. De modo que a presente proposta não toma a cultura como uma instância dada da realidade e ponto final, seja como sinônimo de meros produtos estéticos ou como mera expressão de uma dimensão imaginária, subjetiva ou sensível. Se o imaginário, a subjetividade e a sensação são parte da experiência cultural, ela não é redutível a essa dimensão, conquanto remete à própria experiência social e humana num espaço e tempo dados, em que homens e mulheres, na luta pela sobrevivência, se veem enredados em relações tensas, conflituosas, cujo lugar de sujeitos na história é marcado por sua capacidade de resistência, mais ou menos intensa, mais ou menos consciente, à exploração a que são submetidas pelas classes poderosas.

Em segundo lugar, pelo próprio lugar de cultura como um termo tão marcadamente polissêmico, nada poderia falar melhor da pluralidade epistemológica que marca o corpo docente envolvido com o PPGH/UFCG, com profissionais egressos de diversas partes do país e cujos cursos de pós-graduação, em nível de mestrado e/ou doutorado, dizem da aludida pluralidade epistemológica, Daí o vínculo do dito corpo docente com um sem-número de vertentes teóricas, todas com ampla recepção no Brasil: a história cultural dos Annales, espécie de refúgio da anterior história das mentalidades, com sua visível guinada rumo à história antropológica, conforme obras seminais de autoria de Georges Duby, Jaques Le Goff e Emanuell Le Roy Ladurie; a história cultural americana com Robert Darnton e Natalie Zemon Davis, autores igualmente comprometidos com lições antropológicas aplicadas em âmbito historiográfico, a exemplo dos estudos do primeiro sobre a França setecentista e dos estudos da última sobre a França quinhentista; os estudos culturais americanos, com sua predileção pela temática de gênero e pós-colonialismo e pelo seu visível alinhamento com teorias pós-modernas oriundas da França, a exemplo do desconstrucionismo em Jacques Derrida e Roland Barthes; a viragem linguistic turn ou viragem linguística americana, com obras bombásticas de autoria de Hayden White e Paul de Mann, nomes por excelência do campo em questão; a história na perspectiva pós-moderna e/ou pós-estruturalista de forte acento em Michel Foucault, com absoluto destaque para um sem número de temas em sintonia tanto com as noções de práticas discursivas e não discursivas da chamada arqueologia do saber e genealogia do poder, desenvolvidas pelo dito filósofo nas primeiras fases de sua trajetória intelectual, quanto para suas reflexões acerca de uma estética da existência, isto na sua última fase dessa trajetória, aos quais se somam conceitos tais como: descontinuidade histórica, acontecimento discursivo, biopoder, tecnologias do corpo e cuidado de si, entre outros; a perspectiva do materialismo histórico, com base nos ensinamentos de Karl Marx e desdobramentos no século XX por meio de pensadores Marxistas como Rosa Luxemburgo, Antonio Gramsci, Walter Benjamin, Edward Palmer Thompson e Eric Hobsbawm, devendo-se considerar ainda as trocas historiográficas entre a perspectiva marxista da história social inglesa, com destaque para a história dos “de baixo” presente nas obras de Edward Palmer Thompson, mencionado acima, e a micro-história italiana, nas pessoas de Carlos Ginzburg, Giovanni Levi e Eduardo Grendi, entre outros, historiadores com raízes profundas para com o materialismo histórico.

Por último, é importante considerar o quão é vasto nos dias que correm o chamado mercado historiográfico. Isto explica a importância da adoção de uma perspectiva plural de currículo, tal como o que vem sendo adotado pelo corpo docente à frente do PPGH/UFCG, pois tal perspectiva possibilita aos profissionais envolvidos uma maior liberdade para dialogarem com as grandes matrizes intelectuais que informam os vários paradigmas existentes no mencionado mercado historiográfico, a exemplo de Karl Marx, Jacob Burckhardt, Friedrich Nietzsche e Wilhelm Dilthey no século XIX, isto para mencionar só alguns nomes importantes nesse século. E a exemplo de Antonio Gramsci, Walter Benjamin, Clifford Geertz, E. P. Thompson, Michel Foucault, Gilles Deleuze, Hans Gadamer e Paul Ricoeur, isto para citar alguns filósofos e cientistas sociais do século XX. De alguma forma, há que encontrar guarida em meio a toda essa pluralidade de lugares teóricos e conceituais. Destarte, conviver com essa pluralidade é o que norteia o nosso currículo, pois de outra forma nenhuma negociação tornava-se possível, não sendo de estranhar o fato de convivermos aqui com profissionais alinhados com as mais diversas correntes epistemológicas, na historiografia, na filosofia e até mesmo na crítica literária, entre outras. Daí a convivência entre professores próximos da filosofia da diferença ao lado de professores próximos da tradição marxista, de historiadores culturais voltados ao estudo da vida sensível ao lado de historiadores sociais voltados ao estudo do mundo do trabalho, isto para mencionar alguns poucos exemplos da diversidade epistemológica aludida.

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